Manual Completo de Seguro Auto no Brasil
Introdução
Este manual tem como objetivo oferecer um guia completo sobre seguro de automóveis (Seguro Auto), abordando desde conceitos técnicos até estratégias práticas de vendas. Destina-se tanto a corretores iniciantes quanto experientes – e mesmo a quem pretende ingressar na profissão de corretor de seguros – com foco no mercado brasileiro. Ao longo deste material, você encontrará:
  • Fundamentos e aspectos técnicos do seguro auto: tipos de cobertura, termos importantes, funcionamento das apólices e sinistros.
  • Legislação e regulação atualizadas: principais leis, resoluções e normas da SUSEP (Superintendência de Seguros Privados) que regem o seguro auto, incluindo novidades regulatórias recentes.
  • Atuação profissional do corretor de seguros auto: requisitos para ser corretor, responsabilidades legais, papel do consultor de seguros e ética profissional.
  • Estratégias de vendas de alto desempenho: técnicas para prospecção de clientes, abordagem consultiva, contorno de objeções comuns e dicas para fidelização, visando alta performance em vendas de seguro auto.
Contexto do Mercado de Seguro Auto no Brasil
O Brasil possui uma enorme frota de veículos, mas ainda com baixa penetração de seguros – estima-se que apenas cerca de 30% dos veículos em circulação no país tenham seguro (aproximadamente 20 milhões de automóveis segurados). Isso significa que 70% dos automóveis não contam com proteção securitária, representando um vasto mercado potencial a ser explorado pelos corretores.
Além disso, o brasileiro tem forte relação com o carro e consciência dos riscos de roubo e acidente, o que faz do seguro auto um produto frequentemente demandado de forma espontânea pelos clientes.
Por outro lado, também surgiram concorrentes informais, como as associações de "proteção veicular", que oferecem cobertura a um custo menor porém sem regulamentação da SUSEP, o que representa riscos ao consumidor.
Diante desse contexto, o corretor que deseja atuar (ou já atua) com seguro auto precisa dominar não apenas as coberturas e aspectos técnicos do produto, mas também estar atualizado sobre as normas legais e desenvolver habilidades consultivas de venda. Vamos começar pelos fundamentos técnicos do seguro auto e suas bases legais, para então abordar as melhores práticas de atuação profissional e vendas.
Legislação e Regulação do Seguro Auto no Brasil
Principais Elementos Jurídicos e Normativos
A atividade de seguros no Brasil é amplamente regulamentada. Conhecer o arcabouço legal é fundamental para atuar com segurança e credibilidade. A seguir, destacamos os principais elementos jurídicos e normativos que impactam o mercado de seguro de automóveis:
Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) e CNSP
A SUSEP é o órgão regulador e fiscalizador do mercado de seguros, vinculada ao Ministério da Fazenda, enquanto o CNSP (Conselho Nacional de Seguros Privados) é responsável por diretrizes gerais de política de seguros. Ambos foram estabelecidos pelo tradicional Decreto-Lei nº 73/1966, que até hoje fundamenta a regulação do setor. Toda seguradora que opera em seguro auto deve ser autorizada pela SUSEP e cumprir suas normas.
Autorização de seguradoras e corretores
Somente entidades autorizadas por lei podem operar seguros – isto é, apenas seguradoras devidamente habilitadas pela SUSEP podem emitir apólices. Da mesma forma, para intermediar seguros, o profissional deve ser corretor de seguros habilitado, com registro válido. A profissão de corretor foi regulamentada originalmente pela Lei nº 4.594/1964 e, mais recentemente, passou por mudanças que incentivam a autorregulação da corretagem (Lei Complementar 137/2010 e Lei nº 14.430/2022, que ajustou o modelo de autorregulação). Atualmente, para se tornar corretor é necessário obter certificação em seguros (por exemplo, através de cursos da Escola de Negócios e Seguros, antiga FUNENSEG) e cadastro junto à SUSEP – etapas que aumentam a confiança do cliente no profissional.
Código Civil e Código de Defesa do Consumidor
O contrato de seguro, incluindo o de automóvel, é regido pelas normas gerais do Código Civil (arts. 757 e seguintes) e também está sujeito ao CDC, pois trata-se de relação de consumo. Princípios como a boa-fé objetiva e dever de clareza nas informações são obrigatórios. Por exemplo, todas as exclusões de cobertura devem ser redigidas de forma clara e sem ambiguidades, para evitar interpretações que prejudiquem o consumidor.
Marco Legal dos Seguros (Lei do Contrato de Seguro)
Em dezembro de 2024 foi sancionada a Lei nº 15.040/2024, conhecida como Lei do Contrato de Seguro, que entra em vigor em 2025. Esta nova lei estabelece um microssistema jurídico próprio para contratos de seguro, alinhando o Brasil a práticas internacionais modernas. Ela traz diversas regras protetivas ao segurado, valendo para todos os ramos, inclusive auto. Alguns pontos de destaque:
Prazos de Resposta
A seguradora deve responder ao aviso de sinistro em até 30 dias (após entrega de todos os documentos necessários), caso contrário perde o direito de negar a cobertura futuramente.
Documentação
É permitido solicitar documentos complementares apenas uma vez em sinistros de automóvel (e demais seguros de pequeno valor), suspendendo o prazo por no máximo uma vez – isso evita prolongar indefinidamente a regulação do sinistro.
Emissão de Apólice
Após aceitação da proposta, a seguradora é obrigada a emitir a apólice ou certificado do seguro em até 30 dias.
Normas Específicas de Seguro Auto
A SUSEP emitiu circulares recentes que regem as operações de automóvel. Os dois principais normativos atualizados são:
Circular SUSEP nº 639/2021
Estabelece regras e critérios para a operação dos seguros do grupo automóvel (excetuando-se o seguro Carta Verde, o DPVAT e a Garantia Estendida Auto, que possuem legislações específicas). Essa circular define as modalidades de produtos, critérios para indenização integral, elementos mínimos da proposta, etc., porém sem engessar as condições gerais das apólices – ou seja, traz diretrizes gerais e liberdade para as seguradoras inovarem dentro de certos parâmetros.
Circular SUSEP nº 621/2021
Regula as coberturas de seguros de danos em geral, aplicáveis também ao automóvel no que não conflitar com a 639/2021. Ou seja, normas transversais (como dever de informar franquias, procedimentos de sinistro, etc.) valem para auto.
Essas circulares substituíram e atualizaram regras antigas. Por exemplo, antes de 2021 existiam resoluções como CNSP nº 332/2017 (Seguro Auto Popular) e outras definindo uso de peças usadas, percentuais de perda total etc. Agora, a Circular 639/21 permite que todas as seguradoras ofereçam seguros com peças não-originais ou usadas, ampliando a competição e tornando o conceito de "seguro auto popular" parte do mercado geral (o produto específico Seguro Auto Popular, criado em 2016, entrou em run-off após as novas normas). Assim, o corretor deve se atentar que hoje há produtos mais acessíveis utilizando peças genéricas e coberturas moduladas, decorrentes dessa flexibilização regulatória.
Principais coberturas de Seguro Auto
As seguradoras costumam oferecer um conjunto de coberturas que protegem o segurado contra diferentes riscos relacionados ao veículo. Podemos dividir em cobertura de danos ao veículo (casco), cobertura de responsabilidade civil e coberturas de acidentes de passageiros, além de coberturas adicionais. Vejamos cada uma:
Cobertura Compreensiva (Danos ao veículo)
É a cobertura básica que abrange os principais danos ao próprio veículo segurado. Normalmente inclui colisão (acidente), roubo ou furto, incêndio e danos da natureza (queda de raio, explosão, alagamento etc.). É chamada de "compreensiva" pois compreende vários riscos em um pacote único.
A maioria dos seguros auto vendidos no Brasil é deste tipo "pacotão" – o cliente adquire numa só apólice a proteção contra colisão, roubo/furto, incêndio e eventos semelhantes. Entretanto, o cliente não é obrigado a contratar todas as coberturas juntas caso não julgue necessário.
Cobertura de Responsabilidade Civil Facultativa (RCF-V)
Cobertura opcional (facultativa) que protege o segurado contra reclamações de danos causados a terceiros. Ou seja, se o segurado atropelar alguém ou bater o carro causando danos materiais em outro veículo ou propriedade, essa cobertura paga as indenizações devidas a terceiros, seja por acordo, seja por decisão judicial, até o limite contratado.
Dado que no Brasil não há obrigação legal de contratar seguro de responsabilidade civil para carros particulares, muitas pessoas negligenciam essa proteção – porém ela é extremamente importante.
Cobertura de Acidentes Pessoais de Passageiros (APP)
Cobertura que indeniza os ocupantes do veículo (passageiros e/ou motorista, conforme especificado) em caso de acidentes pessoais decorrentes do uso do automóvel. Garante pagamento de indenização por morte ou invalidez permanente dos passageiros, ou reembolso de despesas médico-hospitalares, até os limites contratados.
O APP pode ser contratado para veículos de uso particular ou comercial de passageiros. É uma proteção adicional que cuida das pessoas dentro do carro segurado, complementando o RCF (que cuida de terceiros fora do carro).
Coberturas Adicionais (Cláusulas Acessórias)
Além das coberturas principais acima, as seguradoras oferecem uma série of coberturas extras e serviços para agregar valor ao seguro auto. Dentre as mais comuns, podemos citar:
Assistência 24 horas
Serviços de guincho/reboque, socorro mecânico, chaveiro, troca de pneu, pane seca, motorista substituto, etc., para emergências com o veículo. Quase todo seguro auto já inclui assistência básica e opções de planos ampliados (ex: guincho com maior quilometragem).
Cobertura de vidros, faróis e lanternas
Garante reparo ou substituição dos vidros (para-brisa, vigia, laterais) e, conforme o plano, dos faróis, lanternas e retrovisores em caso de quebra isolada. Sem essa cobertura, essas peças só seriam indenizadas se quebradas em um sinistro coberto maior; com a cobertura de vidros, mesmo um trincado por pedra na estrada pode ser consertado pelo seguro.
Carro reserva
Disponibiliza um veículo alugado por determinado período enquanto o carro segurado está em reparo por sinistro coberto (ou em caso de roubo até a indenização). É importante notar o período (dias de locação) e categoria do carro reserva oferecido.
Acessórios e equipamentos
Permite incluir itens não originais (som, kit multimídia, rodas especiais) ou blindagem na cobertura, mediante declaração e pagamento de prêmio adicional.
Importância da franquia (dedutível)
A franquia é o valor definido em apólice que fica a cargo do segurado em caso de sinistro de perda parcial. Em outras palavras, é o "dedutível": a parte inicial dos custos de reparo que o segurado assume, e somente o excedente é pago pela seguradora. Por exemplo, se a franquia é R$ 2.000 e o reparo de um acidente custou R$ 8.000, a seguradora paga R$ 6.000 e o segurado arca com R$ 2.000.
A franquia só se aplica a danos parciais ao veículo (quando há conserto). Nos casos de indenização integral (perda total) – como roubo sem recuperação do veículo, ou colisão onde o custo de reparo supera o limite para perda total – geralmente não se aplica franquia (a seguradora paga o valor integral segurado).
As seguradoras costumam oferecer opções de franquia:
  • Franquia normal (padrão): valor base determinado para o modelo do veículo.
  • Franquia reduzida: aproximadamente metade da franquia padrão – o segurado paga menos em caso de sinistro, porém o prêmio do seguro fica mais caro.
  • Franquia majorada: pode ser o dobro da franquia normal – aqui o segurado aceita pagar uma parte maior no conserto, em troca de um prêmio mais barato.
Valor Segurado: Modalidades (VMR e VD)
Outro aspecto técnico central é a forma de determinação do Limite Máximo de Indenização (LMI) para o veículo, ou seja, o valor de referência que será pago em caso de indenização integral. Existem duas modalidades principais aceitas pela SUSEP
A norma permite que seguradoras criem outro critério objetivo e transparente para determinar o LMI, além de VMR e VD, desde que não gere dúvida ao segurado. Poderiam ser índices econômicos, ou valores percentuais combinados – na prática, porém, quase todas usam FIPE ou valor fixo mesmo.
O corretor deve esclarecer ao cliente qual modalidade está sendo usada. No caso de VMR, explicar o conceito de "percentual da tabela de referência" e eventualmente negociar um fator de ajuste (alguns clientes gostam de 105% FIPE para cobrir despesas extras, outros aceitam 90% para economizar prêmio). No caso de valor determinado, deixar claro que aquele valor é o teto de indenização.
Critério de indenização integral (perda total)
Indenização integral ou perda total ocorre quando o veículo sofre um dano tão grande que o conserto não é economicamente viável em relação ao valor do carro, ou quando ocorre roubo/furto sem recuperação do bem. Historicamente, o mercado considerava perda total quando os custos de reparo atingiam 75% do valor do veículo.
Entretanto, a regulamentação atual não fixa um percentual único – a SUSEP permite que cada seguradora defina em contrato qual será o critério para considerar o sinistro como perda total (desde que isso esteja claro para o segurado). Assim:
  • Uma seguradora pode estipular, por exemplo, perda total a partir de 70% do valor do veículo; outra pode usar 80% ou 90%.
  • Se a seguradora adota um percentual mais alto (90%, por exemplo), significa que ela tentará consertar o veículo sempre que o dano for inferior a 90% do valor – isso reduz o número de indenizações integrais e, portanto, costuma baratear o prêmio em relação a outra que dê perda total com 70% de dano.
É papel do corretor verificar e informar ao cliente qual o critério de perda total da apólice. Muitas seguradoras mantêm 75% ou 70%, mas com liberdade de mercado isso pode variar bastante. Se o cliente deseja, pode-se buscar no mercado uma apólice com percentual mais favorável, explicando que possivelmente custará um pouco mais.
Em caso de indenização integral confirmada, o segurado deverá entregar os documentos do veículo para a seguradora (inclusive preencher e assinar a transferência do CRV/DUT) e quitar eventuais pendências (IPVA, multas) – pois o salvado do veículo passa a ser da seguradora após indenização. Se houver alienação fiduciária (financiamento), a indenização primeiro quitará o saldo devedor junto ao banco, com eventual sobra ao proprietário, ou o banco dá baixa na alienação para transferência.
Prêmios e cálculo do risco (precificação)
O prêmio de seguro é o valor que o segurado paga pela apólice, e ele é calculado de forma atuarial considerando o risco que aquele contrato representa para a seguradora. No seguro auto, os principais fatores que influenciam o prêmio são:
Características do veículo
Valor de mercado, modelo e ano, custo de peças, índice de roubos do modelo, tipo (passeio, pickup, moto, etc.).
Carros mais caros têm prêmios maiores (pois o potencial prejuízo é maior). Modelos muito visados por ladrões também encarecem o seguro de roubo. Veículos com manutenção mais cara geram sinistros de colisão mais custosos.
Perfil do condutor/segurado
Tradicionalmente incluem idade, sexo, estado civil, profissão, histórico de sinistros, etc.
Por exemplo, motoristas jovens tendem a pagar mais prêmio, estatisticamente. Quem usa o carro para trabalho (aplicativos, táxi) tem risco mais alto que uso exclusivamente particular.
Localização e uso do veículo
Cidade ou bairro de pernoite (regiões com mais roubo ou trânsito intenso encarecem), se o carro fica em garagem ou na rua, quilometragem média rodada, trajeto diário (urbano vs rodoviário).
Tudo isso compõe o questionário de avaliação de risco que o cliente preenche na proposta.
Coberturas e franquias escolhidas
Naturalmente, quanto mais cobertura e menores franquias, maior o prêmio. Coberturas adicionais (vidros, carro extra) também aumentam custo.
Limites mais altos de RCF ou APP elevam o prêmio proporcionalmente.
É importante destacar que cada seguradora tem seu modelo de tarifação. Por isso, para um mesmo cliente e carro, os orçamentos variam bastante entre companhias. O corretor de seguros de alto desempenho costuma realizar multicálculo – ou seja, cotar em várias seguradoras – para achar a melhor relação coberturas/preço para aquele cliente. Esse é um dos diferenciais que o corretor oferece em relação à venda direta; por isso, domine as ferramentas de cotação disponíveis (software de multicálculo, plataformas das seguradoras, etc.).
Declaração de perfil e Agravamento de Risco
Todas as informações prestadas pelo cliente no questionário de risco devem ser verdadeiras e atualizadas, pois fazem parte do contrato. Se o segurado omisso ou falseia informações relevantes, pode ocorrer negativa de indenização por caracterizar agravamento intencional do risco ou má-fé.
Exemplos: dizer que o carro dorme em garagem fechada mas na verdade fica na rua, ou que o único condutor tem 40 anos mas na prática quem dirige é o filho de 18. Nesses casos, se houver sinistro, a seguradora pode negar cobertura alegando que o prêmio cobrado foi insuficiente para o risco real.
O novo Marco Legal reforça que o segurado não deve agravar intencionalmente o risco e deve comunicar a seguradora caso ocorra agravamento relevante. Portanto, o corretor deve orientar o cliente a preencher honestamente o perfil e a avisar se algo mudar durante a vigência (ex: passou a usar o carro para Uber, ou mudou de endereço).
Se for um agravamento que aumente o risco, a seguradora pode recalcular prêmio ou até, em último caso, cancelar a apólice conforme previsão legal. Mas o pior cenário é descobrir isso somente no sinistro – então a prevenção é sempre melhor.
Contratação e vigência da apólice
Processo de Contratação do Seguro Auto
O processo de contratação de um seguro auto envolve: proposta, análise do risco (subscrição), emissão da apólice e pagamento. Alguns pontos importantes:
Proposta e Aceitação
O cliente (com auxílio do corretor) preenche a proposta de seguro com todos os dados requeridos. Ao receber a proposta, a seguradora tem um prazo para analisá-la e aceitá-la ou recusar. Pelas normas atuais da SUSEP, o prazo de aceitação era tradicionalmente de 15 dias; com a nova Lei do Contrato de Seguro, esse prazo será de 25 dias corridos. Se a seguradora não se manifestar no prazo, a proposta é considerada aceita automaticamente.
Início de Vigência
A apólice passa a valer a partir da data/hora indicada nos documentos contratuais. Em geral, se não houver indicação específica de hora, conta-se a partir das 24h da data estipulada. Atualmente, as seguradoras podem emitir apólices com vigências diferenciadas (não precisa ser exatamente 1 ano). A maioria é anual, mas já existe seguro auto por mês, por km, ou intermitente.
Vistoria prévia
Muitas seguradoras exigem vistoria do veículo antes de iniciar a cobertura (especialmente se a cobertura for somente roubo/incêndio em carro usado, ou se a apólice anterior venceu há um tempo). Com tecnologia, hoje algumas aceitam auto-vistoria via aplicativo ou fotos. De qualquer forma, a existência de danos pré-existentes identificados em vistoria ficam excluídos de cobertura futura.
Apólice e documentos contratuais
Após a aceitação e pagamento inicial, a seguradora deve emitir a apólice ou documento equivalente. Por lei, essa emissão deve ocorrer em até 30 dias da aceitação, mas normalmente é bem mais rápido (via e-mail, por exemplo). A apólice contém as Condições Particulares do contrato (dados do segurado, veículo, coberturas e valores) e remete às Condições Gerais – estas são o conjunto de cláusulas contratuais padronizadas do plano de seguro, que incluem direitos e obrigações das partes, riscos excluídos, etc.
Inovações: Seguro intermitente, por uso, "liga-desliga"
Nos últimos anos surgiram modalidades inovadoras de seguro auto no Brasil, aproveitando tecnologias de telemetria e smartphones. A SUSEP já permite produtos com vigência flexível ou cobertura intermitente. Por exemplo:
  • Seguro "liga-desliga" por app: o segurado ativa a cobertura somente quando for usar o carro e pode pausar quando o veículo estiver parado na garagem. Isso exige disciplina do usuário e monitoramento via aplicativo fornecido pela seguradora.
  • Cobertura por dias da semana definidos: Exemplo, o cliente contrata o seguro válido apenas de sexta a domingo, se ele só usa o carro nos finais de semana. Neste período ele está coberto; nos demais dias, não. O prêmio reflete essa menor exposição ao risco.
  • Seguro com pagamento por km rodado: A apólice tem um prêmio base mensal pequeno e adicional variável conforme a quilometragem percorrida (monitorada via dispositivo ou app). Quem dirige pouco paga menos do que quem dirige muito – é o conceito de pay as you drive.
  • Seguro mensal (on-demand): em vez de anual, o contrato é mês a mês, renovando automaticamente enquanto o segurado quiser, geralmente cobrado no cartão de crédito.
Esses formatos tendem a ser vantajosos para perfis específicos (carro pouco usado, ou que fica longos períodos parado). Porém, é crucial orientar o cliente sobre as limitações: se ele acabar usando fora do período combinado e ocorrer sinistro, não haverá cobertura. A regra de ouro: o seguro deve se adequar ao perfil de uso do cliente. Quanto maior a utilização do veículo, menos vantajoso se torna um plano intermitente ou por km (pode sair até mais caro). Já para baixa utilização, pode ser ótima economia.
Exclusões e riscos não cobertos
Todo seguro possui situações que não estão cobertas, seja por serem riscos não contemplados, seja por serem consequência de mau uso ou dolo. No seguro auto, as exclusões comuns (que constam nas Condições Gerais) incluem, por exemplo:
Atos intencionais ou ilícitos
Atos intencionais ou ilícitos do segurado (dolo). Ex: provocar um sinistro de propósito, ou usar o carro para atividades criminosas.
Uso fora das condições contratadas
Uso do veículo fora das condições contratadas: por exemplo, uso comercial não declarado; participação em corridas, rachas ou competições não autorizadas; condução por pessoa não habilitada.
Eventos extraordinários
Danos sofridos em guerras, rebeliões, ou decorrentes de confisco por autoridade. Danos nucleares ou radioativos.
Multas e perdas indiretas
Multas e penalidades legais; perdas indiretas (depreciação do veículo após acidente, lucros cessantes do segurado, salvo se contratadas à parte).
Desgaste e defeitos
Defeitos mecânicos ou elétricos não decorrentes de sinistro coberto (seguro não é manutenção do veículo). Desgaste natural, depreciação, avarias preexistentes (identificadas antes da contratação).
Itens não declarados
Equipamentos ou acessórios não declarados na apólice.
Essas exclusões variam um pouco conforme cada seguradora. É fundamental o corretor conhecer as exclusões do plano que está vendendo e explicar as principais ao cliente. Muitas reclamações ocorrem porque o segurado não sabia de determinada exclusão – por exemplo, emprestou o carro para um amigo que sofreu acidente, mas esse amigo não tinha CNH válida: a seguradora pode negar, pois havia cláusula que condutor deve ser habilitado.
Portanto, enfatize: "Você está coberto para A, B, C, mas não estará para X, Y, Z." Essa sinceridade evita problemas e demonstra profissionalismo. Lembre-se que o contrato de seguro deve ser interpretado sempre a favor do segurado em caso de dúvida, então as exclusões precisam ser claras. Se algo for ambíguo, pelos princípios legais vigentes será lido pró-segurado. Logo, seguradoras tendem a ser específicas nas exclusões – e nós corretores devemos ser claros ao explicá-las.
Sinistros: Procedimentos e Direitos
Quando ocorre um sinistro (evento causador de prejuízo coberto), o segurado deve tomar algumas providências e tem direitos assegurados por lei e contrato. Orientações gerais que o corretor deve repassar ao cliente:
1
Comunicação imediata
Avisar o sinistro à seguradora o quanto antes, pelos canais disponíveis (telefone, aplicativo, corretor). Conforme a lei, o segurado deve avisar prontamente e fornecer as informações disponíveis sobre o ocorrido. No caso de roubo/furto, comunicar também à polícia (boletim de ocorrência). No caso de colisão com terceiros, coletar dados dos envolvidos. Acionar serviços de emergência se houver vítimas.
2
Evitar agravar os prejuízos
O segurado deve, dentro do possível, tomar medidas para minimizar os danos após o sinistro. Por exemplo, se bateu o carro, retirar para lugar seguro (se houver condições) para não causar novos acidentes; se quebrou um vidro, proteger o interior do veículo contra chuva; etc. Claro, sem se colocar em risco – é uma obrigação de boa-fé prevista em lei.
3
Documentação do sinistro
A seguradora solicitará documentos para regular o sinistro, como boletim de ocorrência, documentos pessoais, CNH, documentação do veículo, orçamento de conserto ou laudo da oficina, etc. A nova lei determina que a seguradora pode pedir documentos complementares no máximo duas vezes (para seguros auto e casos de menor monta). Na prática, as seguradoras têm listas padronizadas de documentos. O corretor deve ajudar o cliente a reunir e entregar tudo corretamente, pois o prazo de 30 dias para indenização só começa a contar após entregue "todos os elementos necessários".
4
Prazo de regulação e pagamento
Conforme já citado, o prazo máximo para a seguradora se manifestar sobre o sinistro é 30 dias a partir da entrega de toda documentação básica. Manifestar-se significa pagar a indenização ou negar justificadamente. Se ela não o fizer no prazo, incorre em descumprimento – pelo novo marco legal, perde o direito de recusa tardia. Entretanto, esse prazo pode ser suspenso uma vez para pedido de documentação extra (no caso de seguro auto). O corretor deve acompanhar e cobrar a seguradora se o prazo estiver próximo, garantindo agilidade ao cliente.
Tipos de Indenização
Indenização de danos parciais
Em sinistros de pequena ou média monta (colisões reparáveis), a seguradora geralmente orienta o reparo em oficina referenciada (rede credenciada) ou permite orçamento em oficina de livre escolha do segurado. O segurado paga a franquia à oficina e a seguradora cobre o restante. Se os reparos forem concluídos antes, o prazo de 30 dias não chega a estourar – mas se houver demora injustificada, o segurado pode reivindicar seus direitos.
Importante: se o cliente não concordar com algum item (ex: discorda de peça paralela no reparo), o corretor pode intermediar a negociação com a seguradora para uma solução satisfatória, sempre prezando pela segurança e qualidade.
Indenização integral (PT ou roubo)
Conforme vimos, havendo perda total, a seguradora paga o valor integral segurado (VMR ou VD) em troca do veículo sinistrado (ou dos documentos para transferência). O pagamento é feito geralmente via depósito na conta do proprietário ou financeira. Caso haja franquia para PT no contrato (raro), seria descontada. Após pago, encerra-se o contrato de seguro (não há "restante" de cobertura, já que foi usado todo o LMI). O cliente, se comprar outro carro, terá de fazer novo seguro.
Se a indenização não for paga no prazo e devida, incidem juros e correção monetária conforme legislação.
Negativa de sinistro
Se a seguradora identificar que o sinistro não é coberto (por estar nas exclusões, ou falta de pagamento do prêmio, etc.), ela pode negar a indenização, mas deve fazê-lo por escrito e de forma motivada (explicando a razão da recusa). O segurado (e seu corretor) têm direito de receber essa justificativa e, se discordarem, podem recorrer internamente e/ou acionar os canais legais (SUSEP, Procon, Justiça). É crucial verificar se a negativa está embasada no contrato e na lei; caso não, o corretor deve apoiar o cliente em buscar seus direitos.
Atuação do Corretor de Seguros Auto
Agora que cobrimos o produto em si e seu contexto legal, vamos tratar da atuação do profissional corretor/consultor de seguros no ramo de automóveis. Ser um corretor de sucesso em seguro auto exige combinação de conhecimento técnico, cumprimento das obrigações legais e habilidade de lidar com pessoas.
Habilitação e Capacitação Profissional
Requisitos para Atuação como Corretor de Seguros
O primeiro passo para quem quer vender seguros (incluindo auto) é formalizar-se como corretor de seguros habilitado. No Brasil, isso envolve:
Formação/Certificação
Tradicionalmente, realizar um curso preparatório e obter certificação pela Escola de Negócios e Seguros (ENS, antiga Funenseg) ou entidade reconhecida. Essa certificação abrange seguros de ramos elementares (patrimoniais, onde se enquadra auto) e/ou vida e previdência, conforme a área de atuação desejada.
Registro perante SUSEP
Após certificado, o candidato solicitava seu registro de corretor junto à SUSEP (obtendo um número de SUSEP). Com as mudanças recentes de autorregulação, esse processo pode ser mediado por entidades autorreguladoras, mas na prática continua essencial ter a formação e cadastro ativo. Sem estar habilitado, a pessoa não pode angariar seguros legalmente. Além disso, operar sem registro é crime (contravenção) e pode gerar punições.
Importância da Capacitação Contínua
Por que isso importa? Além de ser uma exigência legal, ser devidamente habilitado traz confiança ao cliente e credibilidade. Clientes informados sabem que corretores precisam ter licença. Muitos perguntarão ou buscarão seu nome no cadastro. Portanto, destaque esse diferencial: "Sou corretor habilitado, registro SUSEP nº X, capacitado para orientá-lo". Segundo especialistas, possuir a licença é o primeiro grande diferencial para vender seguro auto, pois a confiança do cliente tende a aumentar sabendo que ele lida com um profissional certificado.
Mas não basta habilitar-se: a capacitação deve ser contínua. O mercado de seguros está em evolução constante – novas coberturas, novas resoluções da SUSEP, novas tecnologias (como seguros por app, telemetria) e novos concorrentes (insurtechs, bancos). O corretor de alta performance busca atualização através de cursos, workshops, leituras (como este manual!), participação em sindicatos (Sincor) e eventos do setor.
Conhecimento técnico sólido é percebido pelo cliente: quando você consegue responder perguntas complexas sobre planos e seguradoras, interpretar detalhes técnicos das apólices e aconselhar sobre a cobertura adequada, você se destaca.
Ética e responsabilidade do corretor
O corretor de seguros tem um dever fiduciário para com o cliente (segurado). Ele deve sempre orientar pensando no melhor interesse do segurado, agindo com honestidade e transparência. Alguns princípios éticos e responsabilidades:
Transparência e veracidade
Não omitir informações importantes, não prometer o que não pode cumprir, não fazer declarações falsas. Por exemplo, jamais "mascarar" exclusões ou condições só para vender – isso gera prejuízo futuro ao cliente e mancha sua reputação. Também não realizar propostas sem conhecimento ou consentimento do cliente, e não alterar dados (ex.: colocar perfil diferente para baratear preço) – isso configura fraude e pode lesar o cliente no sinistro.
Sigilo e proteção de dados
O corretor lida com dados pessoais e financeiros dos clientes. Deve mantê-los em sigilo e usar apenas para fins do contrato de seguro. A LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) se aplica – cuidado ao compartilhar documentos, use canais seguros quando possível.
Atuação no interesse do segurado
Caso haja sinistro ou alguma divergência, o corretor deve apoiar o segurado em buscar seus direitos junto à seguradora. Lembre-se que, embora a comissão seja paga pela seguradora, seu cliente de fato é o segurado. Corretores que "somem" quando o cliente mais precisa (no sinistro) acabam perdendo aquele e muitos outros clientes, pois a reputação negativa se espalha.
Em suma, conduzir-se com ética traz credibilidade e indicações. O setor de seguros é baseado em confiança; construa a sua reputação como profissional confiável e você terá clientes fiéis pelo longo prazo. Lembre-se que hoje, com redes sociais e sites de reclamação, qualquer deslize ético pode ganhar publicidade negativa rapidamente – então, faça a coisa certa mesmo quando ninguém estiver olhando.
Ferramentas e suporte ao corretor
Atuar sozinho pode ser desafiador, mas o mercado oferece apoio aos corretores, especialmente iniciantes:
Assessoria de seguros / Brokertechs
São empresas que auxiliam corretores independentes oferecendo infraestrutura, multicálculo, treinamento e até leads. Exemplos: diversas assessorias regionais filiadas à Aconseg, ou plataformas Insurtech que permitem ao corretor começar sem precisar ter conta direta em todas as seguradoras. Avalie se aderir a alguma pode acelerar seu início.
Sindicatos (Sincor) e Fenacor
As entidades de classe oferecem cursos, suporte técnico e representatividade. Participar do Sincor do seu estado permite networking e acesso a informações atualizadas do setor.
Recursos Estratégicos
Tecnologia
Invista em um bom gerenciador de apólices (uma agenda ou software CRM) para controlar vencimentos, contatos e propostas. Use multicálculo para ganhar agilidade nas cotações (há diversos no mercado, alguns integrados às assessorias). Tenha presença digital básica – nem que seja um perfil profissional no Instagram ou LinkedIn, ou um site simples – hoje muitos clientes buscam referências online.
Parcerias estratégicas
Corretor de auto pode se beneficiar muito de parcerias com concessionárias, revendedoras de veículos, despachantes, financeiras e locadoras. Quando alguém compra um carro, logo pensa em seguro – se você for o corretor indicado pelo vendedor ou pelo gerente do banco que financia, sai na frente. Cultive relacionamentos nesses locais, ofereça eventualmente comissão de indicação (desde que transparente) ou contrapartidas. Participar de feirões de automóveis também pode render contatos quentes.
Cross-selling e upselling
Se você já vende outros ramos (vida, residência, saúde), aproveite a base existente. Clientes de vida muitas vezes têm carro e não foram abordados sobre seguro auto. Ou vice-versa: um cliente de auto pode estar receptivo a um seguro residencial. Vendas cruzadas são mais fáceis porque você já tem a confiança do cliente em um produto; ofereça outro que faça sentido, sem forçar. Mantenha um relacionamento próximo para identificar oportunidades – ex.: cliente de vida teve filho, pode precisar de veículo maior no futuro; cliente de auto comprou casa nova, precisa de seguro residencial, etc. Tudo interligado.
Estratégias de Venda e Alta Performance em Seguro Auto
Vender seguro de automóvel pode parecer desafiador num mercado competitivo e com clientes focados em preço. Contudo, com as estratégias adequadas, é possível transformar objeções em vendas e se destacar como consultor de confiança. A seguir, delineamos um passo a passo de vendas consultivas e dicas práticas para o corretor elevar seus resultados.
1. Prospecção Inteligente: encontre clientes em potencial
A primeira pergunta de quem inicia é: "Onde acho clientes para seguro auto?". Algumas estratégias eficazes:
Venda para quem já está interessado
Foque energia em pessoas com real potencial ou necessidade imediata. Por exemplo: proprietários de veículos recém-comprados (0 km ou usados), pessoas cujo seguro atual está para vencer, ou que manifestaram preocupação com roubos na região. Profissionais de vendas bem-sucedidos evitam desperdiçar tempo com quem não tem perfil naquele momento.
Como identificar interessados?
  • Leads de veículos novos: Acompanhe grupos e anúncios de pessoas comprando carro; converse com vendedores de concessionárias e usados.
  • Base de clientes atual: Aí entra o cross-selling: busque em sua carteira se há clientes de outros produtos que possuem automóvel e ainda não fizeram seguro com você.
  • Indicações: Peça a amigos, familiares e clientes satisfeitos que indiquem pessoas que compraram carro recentemente ou que mencionaram interesse. Indicação quente converte bem.
Parcerias e pontos de contato
Conforme mencionado, estabeleça parcerias. Se você tem um acordo com uma concessionária (mesmo informal, do vendedor te chamar quando vende um carro), aproveite. Despachantes e corretoras de financiamento também lidam com proprietários diariamente – ofereça dividir comissão ou uma bonificação por indicação qualificada. Pense também em mecânicas e auto centers: quem instala rastreador, som, ou faz manutenção, pode ser abordado sobre seguro.
Redes sociais e presença online
Use suas mídias sociais profissionalmente. Divulgue dicas sobre segurança veicular, curiosidades de seguros, depoimentos de clientes satisfeitos (com autorização). Monitore os acontecimentos na vida dos seus contatos: pelas redes, você pode ver quando alguém posta "carro novo na garagem!" – excelente oportunidade para parabenizar e oferecer uma cotação. Ative notificações para eventos-chave dos amigos (casamentos, nascimento de filhos, compra de casa, compra de carro) – momentos de mudança geram necessidades de proteção.
Estratégias de Prospecção (continuação)
Feirões e eventos automotivos
Feiras de venda de carros usados, eventos de auto clubes, exposições automotivas – podem ser bons locais para networking. Você pode montar um estande simples ou apenas circular distribuindo cartões para vendedores e compradores, oferecendo seus serviços. Estar presente onde carros são negociados lhe dá acesso a uma lista rica de potenciais clientes.
Em resumo, seja proativo na caça de clientes. Em vez de esperar o telefone tocar, vá onde as oportunidades estão. Construa uma pipeline de leads constante – assim, quando houver alguma perda (cliente que não renova, por exemplo), você terá outros para repor.
2. Abordagem Consultiva: entenda o cliente antes de vender
Conseguiu um contato ou lead interessado? A próxima etapa é a abordagem. Aqui é crucial agir como consultor, não apenas vendedor. Algumas dicas:
Abordagem Consultiva em Seguros
Escute e faça perguntas
Ao primeiro contato, antes de sair falando preços, ouça o que o cliente valoriza. Pergunte: "O que é mais importante para você no seguro? Preço, coberturas, assistência…?", "Você já teve seguro antes? O que gostava ou não gostava na outra seguradora?" Entenda se ele está mais preocupado com roubo, ou se já teve problemas de batida, etc. Identifique se ele conhece pouco ou muito de seguros – assim você calibra seu nível de explicação.
Pense como o consumidor e informe
Coloque-se no lugar dele. Quais dúvidas você teria? Que termos parecem confusos? Aja para informar e educar o cliente, de forma simples. Muitas vezes ele chega cheio de dúvidas sobre franquia, cobertura X, proteção veicular vs seguro. Use isso a seu favor: tire todas as dúvidas e explique didaticamente.
Por exemplo: "Olha, você mencionou que viu uma associação oferecendo proteção veicular por X reais. Deixe-me explicar a diferença: proteção veicular não é seguro regulamentado; numa associação, o risco é compartilhado pelos membros e não tem garantia do governo/SUSEP. Ou seja, se houver muitos sinistros ou má gestão, você pode ficar na mão. Já o seguro tem reserva técnica, regras rígidas e segurança jurídica".
Destaque seu diferencial profissional
Logo no início, se for oportuno, mencione que você é corretor habilitado SUSEP, experiente, e que seu papel é encontrar a melhor solução para o cliente. Muitos clientes não sabem a diferença entre um corretor e um banco ou site qualquer. Explique: "Eu trabalho com várias seguradoras, não sou funcionário de nenhuma – portanto posso te aconselhar isento, buscando o melhor custo-benefício para você. Além disso, estarei ao seu lado durante todo o contrato, especialmente se houver algum sinistro." Essa abordagem consultiva transmite que você está ali para ajudar, não apenas vender.
Comunicação Eficaz
Use linguagem do cliente, evite jargões
Como vimos, há muito termo técnico em seguros. Traduza tudo para uma linguagem simples. Exemplos: em vez de "indenização integral", diga "perda total, quando o carro dá PT"; em vez de "prêmio do seguro", diga "o preço do seguro"; explique franquia como "participação do segurado no conserto" e assim por diante. Não bombardeie com siglas sem explicar (RCF, APP, LMI – tudo deve ser esclarecido em palavras comuns).
Se precisar usar analogias, use. A ideia é: comunique-se no nível da pessoa, sem tentar impressionar com termos difíceis. Clientes valorizam clareza – segundo estudos, a comunicação clara é base de um bom relacionamento com o cliente. Portanto, fale e escreva de forma que até leigos entendam. Revise suas mensagens e propostas, cortando jargões ou explicando-os entre parênteses. Isso evita que o cliente fique com dúvidas ou, pior, assuma entendimentos errados por vergonha de perguntar.
Construa confiança com transparência
Seja totalmente transparente sobre o que o seguro cobre e não cobre, e quanto custa. Explique todos os itens cotados, taxas, formas de pagamento. Não tente esconder taxas para baratear a primeira impressão – pois se aparecerem depois, o cliente se sentirá enganado.
Um exemplo: se o pagamento for parcelado com juros, informe o juros e o preço total; se houver taxa de vistoria ou emissão, avise. Como dito no tópico técnico, o cliente não quer surpresas de última hora – diga tudo de antemão. Isso demonstra honestidade. Mesmo que o preço final fique um pouco maior que o de um concorrente menos transparente, muitos clientes preferem quem joga limpo.
3. Demonstração de Valor: não venda só por preço
Demonstração de Valor em Seguros Auto
Seguros, especialmente auto, costumam ser muito comparados por preço. Entretanto, concentre-se em vender valor, não apenas preço. Eis como:
Eduque sobre cobertura adequada
Se o cliente diz "quero o mais barato possível", tenha cuidado. Muitas vezes o mais barato não atende às necessidades dele e pode deixá-lo na mão. Pergunte: "Você quer o mais barato, certo. Mas posso te mostrar as diferenças? Essa opção econômica cobre só roubo e incêndio, e não cobre colisão. Se você bater, terá que pagar tudo. Você está ciente e confortável com isso?"
Muitas vezes o cliente recua e reconsidera pagar um pouco mais por cobertura de colisão também. Ou se ele realmente só quer baratear: "Talvez façamos assim: coloca colisão, mas aumentamos a franquia. Assim você tem cobertura se algo grave acontecer, mas paga menos no seguro." Esse tipo de consultoria mostra que você está pensando no cliente primeiro (não simplesmente empurrando o mais caro).
Destaque benefícios intangíveis
Se seu preço ficou igual ou um pouco maior que de outro orçamento que ele tenha, enfatize seus diferenciais de serviço: "Meu preço é R$100 maior que o do banco X? Entendo, às vezes eles dão descontos por conta do pacote, porém veja que comigo você terá um atendimento personalizado. Na ocorrência de um sinistro ou qualquer dúvida, você fala direto comigo, 24h, e não com um call center anônimo. Além disso, estou te oferecendo cobertura de vidros e carro extra incluídos, enquanto o do banco não tinha. Por isso o valor um pouco maior, mas em compensação você fica mais tranquilo".
Ou seja, mostre por que vale cada centavo. Clientes nem sempre percebem esses detalhes sozinhos, cabe a você evidenciá-los.
Estratégias de Precificação
Comparar seguro vs não ter seguro
Para aqueles que acham seguro "muito caro", ajude-os a visualizar o custo de ficar sem: "Entendo que R$2000 por ano parece muito. Mas vamos pensar: se você bate seu carro, consertar um farol e para-choque já passa disso fácil. E se você causar um acidente com um terceiro? Só o para-choque de um carro de luxo pode ser R$10 mil. Sem seguro, você arrisca perder seu patrimônio ou se endividar seriamente. O seguro te protege disso."
Colocar nesses termos concretos muitas vezes faz a ficha cair. Além disso, dilua o valor: "R$2000 por ano equivalem a ~R$166 por mês, cerca de R$5,50 por dia – menos que um cafezinho – para ter seu carro protegido o tempo todo. Será que não vale a pena?" Essa argumentação ajuda em objeções de preço.
Explique a composição do preço
Alguns clientes acham que o corretor está colocando margem extra. Explique sucintamente: "O prêmio do seguro é calculado pela seguradora com base no risco: seu carro, perfil, etc., por isso deu esse valor. Não é um valor arbitrário. E ele já inclui os impostos (IOF) e nossa comissão. Se quiser, posso detalhar: por exemplo, desse total, X% é imposto, Y% é comissão, etc., mas você não paga nada além do que está aqui, pode ter certeza."
Novamente, transparência gera confiança e desmonta a impressão de "custo oculto". Lembre, a SUSEP mesma destaca que se solicitado, a comissão deve ser informada – então não tema, informe se perguntado.
Estratégias de Venda (continuação)
Cuidado ao competir apenas por preço
É tentador cobrir sempre a oferta mais barata para fechar negócio. Porém, isso pode significar reduzir sua remuneração a níveis insustentáveis ou colocar o cliente em seguradora menos confiável só por economia. Avalie caso a caso: se a diferença for pequena e seu valor agregado for alto, tente justificar sem baixar preço. Se for uma diferença grande e o cliente realmente não valoriza serviços, às vezes é melhor deixar ir (ou buscar outro perfil de seguradora).
Contudo, frequentemente o cliente diz "está caro" como reflexo automático – cabe ao corretor descobrir se é realmente proibitivo ou se pode ser contornado. Ofereça opções: "Está acima do seu orçamento? Podemos pensar em reduzir alguma coisa, talvez tirar cobertura de acessórios ou diminuir o limite de RCF para trazer para sua faixa." Assim, você mostra disposição em adequar a proposta.
Em resumo, vender valor é mostrar todos os benefícios e segurança que o seguro traz, contextualizando o preço. Quando o cliente entende o valor, o preço deixa de ser o único fator.
4. Fechamento e Condução do Negócio
Após apresentar a proposta e tratar objeções, vem o momento de conversão em venda. Algumas práticas para efetivar o fechamento:
Técnicas de Fechamento de Vendas
Senso de urgência (mas sem pressão indevida)
Lembre o cliente de eventuais prazos: por exemplo, "Sua apólice atual vence daqui 5 dias, precisamos fechar antes para não ficar descoberto." Ou "Essa cotação que fiz tem validade de 10 dias, depois a seguradora atualiza tabela e pode mudar o valor." Criar urgência ajuda a evitar procrastinação. Mas cuidado para não soar como ameaça – seja genuíno. Se o cliente acabou de comprar um carro, enfatize que não pode circular sem seguro (ainda mais se financiado, banco exige cobertura). Use argumentos reais: "Imprevistos não avisam, melhor estar protegido o quanto antes."
Facilite o processo
Não coloque barreiras no fechamento. Seja ágil em coletar dados, preencher proposta e enviar para seguradora. Oriente sobre formas de pagamento (cartão, boleto, débito) – se parcelar, informe se tem juros. Se precisar de vistoria, já agende rapidamente. Quanto mais você mastigar o processo para o cliente, mais fácil ele assina. Tenha formulários prontos, use assinatura digital se disponível, ou ofereça ir até o cliente pegar assinatura física. Mostre que você cuida de tudo burocrático.
Confirmação por escrito
Ao fechar, envie um e-mail ou WhatsApp formalizando: "Conforme combinado, seguro tal, seguradora X, coberturas Y, prêmio Z, pagamento assim, vigência tal, proposta em anexo." Assim o cliente fica seguro do que contratou e evita "lembranças diferentes" depois. Em seguida, quando sair a apólice, envie o documento e se coloque à disposição para revisar com ele algum ponto. Essa postura profissional pós-venda reforça a seriedade.
Pós-Venda e Entrega
Entrega de apólice e orientação final
Quando a apólice/contrato estiver ativo, faça uma "entrega técnica" – explique novamente resumidamente: "Seu seguro está em vigor. Aqui estão os números de telefone para assistência 24h, aqui sua apólice. Relembrando: sua franquia é de R$X, você tem direito a carro reserva por 7 dias, etc. Qualquer emergência me ligue. Vou te lembrar do vencimento ano que vem, mas fique tranquilo até lá." Essa recapitulação final garante que o cliente saiba usar o seguro e valorize o que comprou.
Follow-up de satisfação
Alguns dias após, ou principalmente após o primeiro uso (ex: precisou do guincho), pergunte se correu tudo bem. Essa atenção pós-venda fideliza e pode render indicações ("Nossa, meu corretor até me perguntou se o guincho foi ok!" – ele vai contar para amigos).
5. Fidelização e Alto Desempenho Continuado
Estratégias de Fidelização de Clientes
Conquistar um novo cliente pode custar 5 vezes mais esforço do que manter um atual. Portanto, fidelize quem você já tem:
Renovações proativas
Tenha um controle para contatar cada cliente cerca de 30 dias antes do vencimento do seguro. Apresente a renovação, mesmo que seja pela mesma seguradora se estiver competitiva. Se o prêmio subiu muito, já antecipe que cotou em outras e apresente opções. Não espere o cliente vir perguntar – ele pode ser abordado por outro corretor ou pelo gerente do banco nesse meio-tempo.
Seja presente, mas não incômodo
Mantenha contato ao longo do ano com comunicações leves – por exemplo, mensagens em datas especiais (aniversário do cliente, Natal) ou dicas úteis ("vai pegar estrada no feriadão? Confira os pneus… e lembre que você tem assistência 24h se precisar"). Isso faz o cliente lembrar de você de forma positiva, não só na hora de pagar.
Atendimento excepcional em sinistros
Já mencionado, mas reforçando: se o cliente tiver um sinistro e você der toda atenção e resolver problemas, há grande chance dele nunca mais te trocar. Clientes têm gratidão enorme por quem os ajuda na hora difícil. Às vezes, uma atitude como visitar o local do acidente (se for viável) ou agilizar um carro reserva extra junto à seguradora pode conquistar um cliente para sempre e gerar indicações entusiasmadas.
Pesquisa de satisfação e melhoria contínua
Não hesite em pedir feedback. Se um cliente cancelou ou trocou de corretor, tente descobrir o motivo – para aprender e ajustar seu serviço. Se um cliente está muito satisfeito, peça depoimento ou indicação.
Por fim, alta performance em vendas de seguro auto significa equilibrar volume e qualidade: atenda muitos clientes, mas com excelência. Utilize métricas para se auto-gerir: qual sua taxa de conversão de cotação em venda? Quantas ligações ou leads faz por semana? Quantas renovações retém? Estabeleça metas e acompanhe. O mercado de auto é dinâmico – corretores que se destacam geralmente têm disciplina comercial (prospecção diária), conhecimento atualizado e carisma no relacionamento.
Conclusão
Vender seguros de automóveis no Brasil é uma atividade repleta de oportunidades, mas que exige preparo e dedicação. Neste manual, cobrimos desde os fundamentos técnicos e legais até as estratégias de venda e pós-venda para alcançar alta performance. Em resumo, para ser um corretor de sucesso em seguro auto: conheça profundamente o produto e a legislação, mantenha-se sempre atualizado, aja com ética e foco nas necessidades do cliente, e desenvolva habilidades comerciais de prospecção, comunicação clara e negociação de valor.
Lembre-se de que, ao final do dia, seguro é confiança. O cliente confia a você a proteção de um de seus bens mais estimados (o carro, muitas vezes fundamental para seu sustento ou conforto). Cultive essa confiança sendo um verdadeiro consultor de seguros, aquele profissional que educa, aconselha e acompanha o segurado em todos os momentos – não apenas na venda, mas durante toda a vida do contrato.
Agindo assim, você não apenas atingirá alta performance em números, mas também construirá uma reputação sólida e uma carteira fiel, que é o maior patrimônio de um corretor de seguros. Boa sorte e bons negócios!
Fontes e Referências:
  • Superintendência de Seguros Privados – SUSEP (normativos e notícias)
  • Lei nº 15.040/2024 – Novo Marco Legal do Contrato de Seguro
  • Infomoney – Guias e notícias sobre seguro auto e DPVAT
  • Conteúdo educacional Baeta/Academy – Dicas de vendas para corretores
  • Portal Gov.br – "Seguro de Automóveis" (Educação Financeira SUSEP), entre outros.